top of page
Buscar

Rui Neves Moreira: Mesmo com a covid-19, “os hospitais são mais sobre a vida do que sobre a morte"

Foto do escritor: Ana Rita MoutinhoAna Rita Moutinho

A covid-19 chegou a Portugal a 2 de Março. Desde então, o país assistiu a uma cobertura a mediática incessante e poucas vezes vista na sua história recente. Rui Neves Moreira, assessor do Centro Hospital de São João acabaria por se tornar no principal elo de ligação entre o Hospital, na primeira linha de resposta, e os meios de comunicação. *com Maria João Silva


Fotografia da autoria de Adriano Miranda

Quando, em Setembro de 2019, Rui Neves Moreira chegou ao Centro Hospitalar de São João (CHSJ) sabia que pela frente teria “um grande desafio”. Por esses dias, o mundo ainda navegava em águas serenas e no horizonte não se vislumbram sinais de que a calma que caracterizava o quotidiano de milhões de pessoas pudesse vir a ser alterada. Daí que o tempo dedicado por Rui àquela instituição representasse apenas uma parte do seu trabalho diário enquanto assessor de imprensa.


Os primeiros sinais de que algo estaria para mudar surgiram “a meio de Janeiro”, face aos relatos vindos da China a dar conta de um novo vírus de características desconhecidas, mas com um rastro de morte atestado. Iniciava-se, assim, um período em que todo o hospital, gabinete de comunicação incluído, se preparou para o pior. Durante os dias que se seguiram, a instituição assistiu a um vai-e-vem de casos suspeitos que acabariam por não se confirmar. “Todo esse período foi fundamental”, assegura, já que “houve uma evolução na abordagem e um tempo de preparação”.


A incerteza acabaria por cessar no dia 2 de março com a confirmação do primeiro infectado no Hospital de São João e, simultaneamente, no país - juntamente com um segundo que foi encaminhado para o Hospital de Santo António. A partir desta data, o trabalho de Rui ganhou outro ritmo, com o aumento de pedidos de esclarecimento, entrevista e reportagem aos quais o assessor teve que responder. “O Hospital de São João tem um grande volume de comunicação e ganhou grande espaço mediático.” Nesta procura desenfreada por informação, o assessor de imprensa garante ser possível distinguir quais os jornalistas especializados em saúde que “conhecem melhor os hospitais” e que acabam por “conseguir as melhores histórias”.


“Todos os jornalistas neste momento fazem saúde, jornalistas de desporto ou jornalistas de áreas completamente díspares neste momento estou focados na área da saúde.”


Se o CHSJ esteve desde o primeiro dia na linha da frente no combate à covid-19, uma das preocupações de Rui foi, “a nível de comunicação, acompanhar o excelente trabalho que o conselho de administração e todos os profissionais fizeram para dar a melhor resposta possível” à conjuntura que estamos a viver. Isto reflete-se na abordagem “proativa, estruturada e planeada” com que gere todas as solicitações que lhe chegam, de forma a evitar possíveis “crises”. Um “hospital aberto que comunica muito, comunica bem”, é este o espaço que assessor de imprensa de 26 anos pretende criar com o trabalho que tem desenvolvido.


Simultaneamente ao fluxo de informação que diariamente sai do CHSJ, há também uma “articulação” entre os restantes organismos ligados à saúde que, a nível nacional, estão na primeira linha de combate à covid-19, tais como o Ministério da Saúde e a própria Direção Geral da Saúde (DGS). Tudo com o propósito de dar “uma boa resposta do ponto de vista de comunicação” para, nesse aspecto, “nada falhe”. A ligação entre organismos não se resume ao vírus ou aos corredores de hospital. Segundo Rui, existe um apoio mútuo que é fundamental no combate à pandemia. “Nós apoiamos e eles apoiam-nos, de forma a que não exista o erro de estarmos a comunicar coisas diferentes e de nos contradizermos.”


O foco “nas coisas positivas” que acontecem no maior hospital do norte do país é, também, uma das prioridades de Rui, principalmente quando “tudo é desconhecido”. O assessor baseia-se, precisamente, no novo coronavírus para ilustrar a ideia de que “os hospitais são muito mais sobre a vida do que sobre a morte”. “Nascem, salvam-se e tratam-se muitas mais pessoas do que as que perdem a vida”, assegura. A mensagem é importante não só para aqueles que vislumbram o CHSJ a partir de fora, mas também para os que percorrem os seus corredores diariamente dando mais de si para salvar o outro. “Não há uma vacina, uma cura, por isso, são as pequenas vitórias e os pequenos incentivos que acabam por valorizar os profissionais de saúde - e a comunicação tem um papel importante nisso”.



 

Do estudo ao trabalho, comunicar é uma verdadeira arma de combate à covid-19


Rui Neves Moreira no Hospital de São João - Autoria de Manuel Roberto

“Trabalhar no local onde nasceu” é apenas uma curiosidade entre tantas outras no trajeto de Rui Neves Moreira no mundo da comunicação. Se, inicialmente, a entrada no curso de Ciências da Comunicação se deveu à vontade de ser jornalista, o contacto com a área das relações públicas fê-lo considerar um futuro na assessoria de imprensa. A primeira experiência surgiu em 2013, ainda no decorrer da licenciatura, quando foi escolhido para integrar a equipa de comunicação do festival Optimus Primavera Sound. Apesar da estreia num evento de cariz cultural, seria o gosto pelas áreas da política e da saúde a levá-lo à extinta Press-à-Porter (actual CCCP), onde acaba por estagiar, abrindo assim portas à carreira exclusiva de assessor.

Por estes dias, Rui trabalha “mais horas e mais fins-de-semana”, uma exigência inerente ao cargo que ocupa e que pressupõe a sua presença “na linha da frente o tempo todo”. Só que para além do profissional, nele habita também o “cidadão com amigos e família”, com a preocupação de os “proteger” sempre presente. Na “destrinça” para separar as águas e conseguir o equilíbrio necessário para cumprir com as obrigações, o apoio dos que lhe são próximos é essencial, assim como a segurança que sente sempre que se desloca ao CHSJ (“três ou quatro dias por semana”) para participar em reuniões ou dar resposta a pedidos de reportagens.


“Nós sabemos que no hospital há o vírus, isso é uma verdade absoluta.”


Partindo do princípio que uma “antena exclusivamente ligada à covid-19 não é viável do ponto de vista da comunicação”, Rui antevê “uma ressaca pós-covid”. Em primeiro lugar, “as pessoas vão querer saber mais sobre aquilo que se passa nos hospitais”, o que se traduzirá numa “maior dedicação e um maior espaço para se comunicar saúde”. Depois, “a relação das pessoas com o hospital vai ser algo demorada” de recuperar, pelo que será importante, em termos de comunicação, “explicar às pessoas que elas estarão seguras, que terão todas as medidas de segurança e proteção para fazer os seus exames, consultas e tratamentos”.



 

Mas, afinal, como é estabelecida a ponte entre os jornalistas e o interior do hospital ?


A primeira abordagem, regra geral, parte do jornalista que “contacta o assessor de imprensa que, por sua vez, transmite a mensagem ou articula-se com o conselho de administração”. Este organismo tem a responsabilidade de “identificar, com a assessoria de imprensa, as pessoas certas para responder ou, se for o caso, ser o próprio a responder”. Posteriormente, “o conselho de administração faz chegar a informação ao assessor de imprensa que prepara a resposta, seja de que tipo for, para a transmitir aos meios”.


 

1.146 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page